Crônica por Rafael Jasovich – PAIXÃO POR BOTECOS


Minha paixão pelos botecos me faz escrever loas a este tipo de estabelecimento – e sempre volto ao tema de maneira compulsiva e o leitor há de me perdoar.
A força do botequim no seu espírito democrático.
Ele acolhe sem distinção, e sempre com afeto, o boêmio inveterado e o empresário entediado, a dama respeitosa e a garota serelepe – a todos o botequim oferece sem questionar a descontração e a magia de sua cultura. Basta chegar e ir sentando, isso quando há onde sentar.
Falar de bar e botequim é falar de tradição, de descontração, de encontros (e também desencontros).
O botequim (e eu acrescentaria o bar) está impregnado e carrega a alma da cidade cosmopolita e brasileiríssima, materna e mundana, multicultural e singular.
Pode ser considerado o símbolo do jeito brasileiro de ser e de viver.
Os bares e botequins, caracterizados como verdadeiros espaços de sociabilidade e de musicalidade, tornaram-se, ao longo do tempo, ponto de encontro, centro de decisões, local democrático de diversão, descontração, criação, onde dialogam permanentemente diferentes e diferenças e onde muito da nossa música é (e foi) gestada.
É bem verdade que nem todos os bares e botequins possuem a mesma alma. Os hoje chamados “pés-limpos” ou ¨pubs¨ se distanciam dessa essência, pela sofisticação e pela clientela difusa que os frequenta.
É quase que um modismo conhecer esses bares modernos.
Os mais autênticos são, sem dúvida, os “pés-sujos”, ou seja, os botequins em seu estado natural, onde não há sofisticação na decoração, na acomodação, muito menos nos serviços prestados aos fiéis clientes que, em sua grande maioria, são vizinhos desses bares ou moradores das redondezas.
Esses estabelecimentos têm o poder de ser muito mais do que um mero estabelecimento comercial, oferecem em meio à grande densidade urbana cantinhos onde nos sentimos tão à vontade, como se estivéssemos em casa.
São eles verdadeiras extensões de muitos lares, oferecendo todo um clima de informalidade, de descontração.
Que é o boteco em última instância se não um templo onde os solitários se sentem acompanhados com seus copos, pensando… pensando… ou falando com um amigo, ou numa roda de camaradas de copo.
O encontro, a descontração, a dor de cotovelo, a comemoração, a extensão do lar permeiam o cotidiano dos bares e botequins.
É o botequim, é um caos, é templo de muitos, é lar de multidões, refúgio dos que têm dor, o espaço da busca de algo mais no fundo do copo – confissões, soluções, brigas, paixões, descobertas, paqueras, criações, festas.


*Rafael Jasovich

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